quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Aeroporto JFK, Nova York
Jeitinho Deliano

Estou na fila para embarcar no vôo de volta para o Rio. Fiz conexão em NY, mas não tive tempo de dar um pulinho na cidade, o que é uma pena.

Hoje fui acordado muito cedo pelo Anthony para desocuparmos o apartamento dele. Carregamos o futon e estrado até o apartamento novo, e fui devolver a bicicleta do Matthew. Fui então para Roslyn, onde passa o (leento) ônibus para o aeroporto Dulles. Esperando pelo ônibus, eis que surge um taxi um tanto surrado (um prius híbrido), de cuja janela emerge uma cabeça que, em um forte sotaque indiano, anuncia uma corrida sem taxímetro para Dulles por US$ 60. "Só tenho US40, respondi". Já no taxi, descobri que só tinha na verdade US$31 (havia esquecido do preço do café da manhã). Sem problemas, diz o intrepido nativo de Nova Deli (como fiquei a saber depois). Fazemos qualquer negócio. Na hora já me senti de volta ao Rio! O cara mora perto do aeroporto, e assim aproveitava para ir tomar café (e sabe-se mais o que) com a patroa em casa. No final da corrida, ele começou a insistir, dizendo que eu devia ter mais dinheiro em algum lugar. Não, eu não tenho, respondi; algumas iterações deste diálogo depois, mostrei para ele o interior da minha carteira (eu tinha US$ 6 dolares, trocados para o ônibus, no bolso. Mas tenha dó...). Disse para ele que tinha algumas moedas brasileiras, porém. Desta forma, 20 minutos e US$31 e R$1,25 depois, eu já estava no aeroporto, com tempo para matar.

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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

SfN 2011, Washington DC
Cidade mitológica


 Pelo fato de ser sede do governo federal e de uma profusão de agências, organizações, universidades e think thanks de todos os tipos, Washington DC não tem as comunidades históricas e idiosicrasias locais que tanto distinguem partes do Rio ou de Nova York. O fato é que muito da população local é transiente, sem raizes locais mais profundas. Não chega perto do artificialismo de Brasilia, mas é algo que vai se tornando mais e mais notável a medida em que vou andando pela cidade. Isto não torna a cidade desagradável, certamente. As ruas são simpáticas e bem cuidadas, as folhas nas arvores assumem tons outonais interessantes, e a arquitetura local é apropriadamente grandiosa; mas é difícil apontar alguma característica ou maneirismo tipicamente local. Para bem ou para mal, o charme de DC é federal; por aqui a historia americana assume tons mitológicos: Mais do que uma sequencia de eventos e um conjunto de reliquias, ela se torna uma meta-narrativa que explica e organiza moralmente (com os inevitáveis, mas no caso até bastante variados, filtros ideológicos)  o mundo atual. Isto se torna claro na obsessiva preservação de artefatos históricos no national archives*, nos memoriais a presidentes e guerras vários, reverentemente visitados, na presença ubíqua (irônica ou não, crítica ou não) da história republicana na arte local, e até no discurso dos ocupantes do Occupy DC.


"We the People of the United States, in Order to form a more perfect Union, establish Justice, insure domestic Tranquility, provide for the common defence, promote the general Welfare, and secure the Blessings of Liberty to ourselves and our Posterity, do ordain and establish this Constitution for the United States of America."

Falei pouco sobre o Neuroscience aqui porque não há grandes diferenças em relação aos anteriores. Atualmente uma chuve de *&^#*&^#  me impede de fazer o meu passeio, a tanto tempo adiado, até Mount Vernon. Como a chuva dá sinais de trégua, vou dar uma saida. Depois escrevo mais.
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*  E.g., a sala de emergencia onde Kennedy morreu foi transplantada de Dallas e totalmente reconstruida aqui; a declaração de independência é preservada em uma capsula a prova de bombas atômicas, e a (enorme) bandeira original que inspirou o hino nacional americano é enclausurada em uma sarcófago transparente hermeticamente selado e preenchido com argônio. Incidentalmente, até o começo do seculo 20 era comum presidentes presentearem dignatários visitantes com pequenos retalhos da tal bandeira, cortados pessoalmente; devido a esta prática bizarra, hoje vemos um canto inteiro que parece roido por traças. Hoje ela está protegida contra traças e políticos.

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sábado, 12 de novembro de 2011

Mount Vernon Convention Center, Washington DC
Save Ferris

Eu conheci o Anthony quando vim para o SfN em Washington pela primeira vez, a 3 anos atrás. Eu precisava de um lugar para ficar, e enviei meio a esmo um pedido para me hospedar na casa dele logo após criar uma conta no Couch Surfing.

Eu não tinha referências, amigos ou histórico no site, mas por qualquer razão ele aceitou o meu pedido. Ficamos amigos, e neste ano ele veio (foi...) ao Rio, onde eu organizei um coloquio no qual ele ensinou os rudimentos da linguagem de programação R para o povo da biologia. Quando mencionei que iria novamente à Washington para outro congresso, ele me convidou novamente para ficar na casa dele. Novamente, eu aceitei.

O Anthony acaba de comprar um apartamento. O que significa que seu apartamento antigo (alugado) está vago até o final do mes. Estava, porque estou lá instalado, a dois quarteirões do centro de convenção. Nada de um sofá na sala de outrém: Tenho o apartamento só para mim.

No dia em que cheguei, o Anthony também me convidou para jantar na sua nova casa. Conheci lá um colega dele chamado Matthew. Ao ouvir eu mencionar casualmente os meus hábitos ciclísticos, ele prontamente ofereceu sua bicicleta reserva, para eu usar enquanto estivesse aqui. Claro! Fui pegar a bicicleta no dia seguinta, e fiquei sabendo que a sua namorada estava dando uma festa celebrando a chegada de sua nova roomate. Eu não gostaria de ir? Fui, e encontrei diversas pessoas simpáticas e interessantes. Terminei a noite em uma profunda discussão sobre o significado epistemológico das coincidências para a teoria da evolução de Darwin.

Entre apartamentos, bicicletas, jantares e festas, estou com uma sensação um tanto Ferris Bulleresca, com pessoas que vou encontrando fortuitamente tornando a minha vida mais facil e confortável espontaneamente, sem nenhum esforço significativo (ou mesmo pedido) da minha parte. Acho que poderia me acostoumar com isto...

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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Embassy Row Hotel, Washington DC
O número 1 é o sucessor do número 0!

Hoje, as 11:11 do dia 11/11/11, a unicidade do número 1 será comemorada com a leitura dos axiomas de Peano sob a sombra do monumento a Washington.



  • 1. Existe um número natural 0;
  • 2. Todo número n tem um sucessor n' no conjunto dos números naturais (\mathbb{N})
  • 3. Não existe nenhum número natural que tenha como sucessor o número 0;
  • 4. Se n e m forem números naturais, e se n'=m' então n=m ;
  • 5. Se 0 tem uma propriedade e esta propriedade também é possuida pelo sucessor de todos os números naturais que a possuem, então ela é possuída por todos os números naturais.

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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Aeroporto Intercontinental (!) George W. Bush, Houston
I love the smell of high fructose corn syrup in the morning

Não sou o primeiro a observar isto, mas o aparato de segurança aérea nos EUA parece considerar o bom senso elementar como uma ameaça mais grave que a Al Qaeda. Entre apalpadelas e raios-x, comentários jocosos e piadas são recebidos não exatamente como hostilidade, mas com a incompreensão impaciente de quem não parece estar familizarizado com o conceito de 'humor'. Alias, o alto-falante repete a cada 2 minutos que piadas sobre a segurança podem levar a prisão do piadista. Suponho que representem uma ameaça clara e imediata à auto-estima dos funcionários. De qualquer forma, talvez seja prudente eu ficar calado.

Fora da área de segurança, a convivencia é mais natural. De fato, impressiona a disposição de americanos randômicos de entabular conversas amigáveis com completos estranhos. É algo que eles têm em comum com nos brasileiros, e que nos distingue ambos da maior parte dos europeus.

PS: Eu poderia saber que estou nos EUA só pelo gosto da Coca Cola. É o tal HFCS usado aqui como substituto (piorado) de açucar de verdade. Uma consequencia dos subsidios agricolas locais, capaz de induzir em mim arroubos agudos de neoliberalismo anti-protecionista.

UPDATE: No avião agora. A Continental me deu um upgrade, então tenho que escolher entre um omelete de cogumelos e cereal. Não tenho certeza, mas talvez esta seja a primeira refeição decente em um avião que terei nos EUA.

UPDATE2: Ué, até que foi bom este café da manhã aéreo. Comi o tal omelete de cogumelo, alguma coisa feita de batata e creme de espinafre bastante respeitável, presunto grelhado, mini-hamburguer, salada de fruta, iogurte e um bagel. Café e suco de laranja de verdade servidos em copos de verdade. Por mais que meus instintos demóticos protestem, não tenho muita vontade de regressar a hói poloi da classe econômica...

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro

Estou a caminho de Washington, DC, para mais um neuroscience. Não posso escrever muito, porque a Continental está chamando os assentos em ordem decrescente, e o meu está no próximo grupo. Para variar, até que a fila formada não foi uma vergonha nacional. Em Houston escrevo mais.

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