terça-feira, 24 de outubro de 2006

Casa, Rio de Janeiro
Blogando sobre Darfur

O enviado da ONU para o Sudão, um holandes chamado Jan Pronk, foi expulso pelo governo de Cartoom após mencionar em seu blog algumas derrotas sofridas pelo exercito Sudanes no norte de Darfur. Atualmente ele está de volta ao pais natal, mas não se sabe ainda se ele vai voltar. O Koffi Anan reafirmou que ele continua sendo o enviado oficial da ONU, a União Africana manifestou pesar, etc.

O trecho que parece ter motivado a expulsão parece ter sido esse:

First, the SAF has lost two major battles, last month in Umm Sidir and this week in Karakaya. The losses seem to have been very high. Reports speak about hundreds of casualties in each of the two battles with many wounded and many taken as prisoner. The morale in the Government army in North Darfur has gone down. Some generals have been sacked; soldiers have refused to fight. The Government has responded by directing more troops and equipment from elsewhere to the region and by mobilizing Arab militia. This is a dangerous development. Security Council Resolutions which forbid armed mobilization are being violated. The use of militia with ties with the Janjaweed recalls the events in 2003 and 2004. During that period of the conflict systematic militia attacks, supported or at least allowed by the SAF, led to atrocious crimes. Moreover, a confrontation with Chad is not impossible. It seems that SAF is receiving support from Chadian rebels on Sudanese soil, while the NRF/JEM/G19 coalition is supported by Chadian authorities.

O post na verdade diz respeito as divisões dos dois lados do conflito. Entre os rebeldes darfurianos, existe uma crescente hostilidade entre os grupos que assinaram o acordo de paz, e aqueles que o rejeitaram; e no governo Sudanes uma facção aparentemente tenta obter uma solução militar para o conflito, e tem violado sistematicamente o acordo.

O JP tem feito esforços homéricos para vender o peixe do acordo de paz costurado pela ONU e pela União Europeia, e assinado em Abuja, Nigeria, pelo governo central e alguns dos grupos rebeldes. O acordo não é perfeito, mas é a melhor chance para resolver a situação de forma decente. Acordos similares coneguiram acabar com a guerra no sul, e mais recentemente com o conflito no leste do pais (o Sudão teve uma guerra civil por ponto cardeal, se contarmos a insurgencia nas montanhas núbias nos anos 80). Mas os rebeldes estão divididos, e alguns continuam lutando. O governo central assinou o acordo, mas pelo menos uma facção importante não parece ter muita intenção de cumpri-lo. De fato, o governo apoia as milicias janjaweed de forma cada vez mais descarada, ao mesmo tempo em que veta a entrada de novas tropas de paz da ONU ou uma ampliação da missão da União Africana (atualmente com 7000 homens mal equipados para cobrir um território do tamanho do Pará [o estado, não o Astrônomo]), sob o manto do 'anti-imperialismo'. Nas palavras do Pronk:

"The main thing is that a peace accord was signed in Darfur but the military are trampling all over it and are still trying to gain a military victory," he said.

"I have been trying constantly over the last months to expose this and this doesn't suit them."

O fato de Pronk não se comportar como o típico diplomata da ONU que confunde verborragia com ações e trata psicopatas como estadistas*, provavelmente tem mais a ver com a sua expulsão do que a desculpa apresentada.

Só para terminar o assunto, um recurso importante para saber mais sobre Darfur, e conflitos no Sudao em geral, é o Sudan Watch.

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* Eu tenho em mente o Yasushi Akashi, reincarnação do Neville Chamberlain, que durante a guerra na Bosnia produzia cessar-fogos em série, que não duravam o suficiente para a tinta com que eram escritos secar, mas serviam de desculpa para impedir qualquer ação concreta para impedir atrocidades. Para AA, efetivamente fazer algo ou mesmo criticar maniacos como o Karadzic e o Mladic poderiam atrapalhar um processo de paz místico que só existia na sua cabeça.

2 comentários:

Viuvas do Rafael Cury disse...

o problema e' que ninguem ta' nem ai. e' aquela velha historia: vamos deixar acontecer depois o governo passa uma lei dizendo que "e' proibido negar genocidio". e' praticamente a mesma coisa.

|3run0 disse...

É, imagino que daqui a 20 anos o parlamento francês vai passar uma lei probindo negar o genocidio em Darfur...